sexta-feira, 6 de novembro de 2009

A música na sala de aula






*Professor Reginaldo Elias Ferreira











Quando pensamos em música, logo imaginamos o ouvido como órgão importante de sentido, mas é o cérebro que interpreta as ondas sonoras recebidas pelo ouvido.


Assim como todos os sentidos externos do corpo humano (audição, olfato, tato, paladar e visão) a audição é resultado de uma interpretação cerebral. Quanto mais rica for uma música em seus diferentes sons (agudos, médios e graves), timbres (cordas, sopro e percussão), ritmos (pulsações), velocidades (notas longas, médias e curtas), intensidade (forte, média e fraca) com harmonia (combinação de sons simultâneos), mais o cérebro de quem a ouve será estimulado.


Recomenda-se às crianças em idades iniciais do desenvolvimento cerebral (0 a 6 anos) ouvir músicas eruditas, a exemplo das "clássicas", por serem ricas em expressões sonoras propícias ao desenvolvimento da acuidade cerebral auditiva, característica esta que é de grande importância para a aprendizagem de idiomas.


A música, arte de combinar os sons, é uma excelente fonte de trabalho escolar porque, além de ser utilizada como terapia psíquica para o desenvolvimento cognitivo, é uma forma de transmitir idéias e informações, faz parte da comunicação social.


Na Educação Infantil e no Ensino Fundamental I, usa-se a música há muito tempo em sala de aula, mas normalmente de uma forma lúdica, sem cobrança pedagógica do conteúdo aos alunos, salvo algumas exceções.


No Ensino fundamental II a música é raramente utilizada, mas ao professor interessado em enriquecer a sua prática pedagógica com música cabe estar atento à pertinência do tema musical à matéria lecionada e fazer um planejamento que permita ao aluno desenvolver análise e interpretação da letra, defendendo-a, rebatendo-a e/ou lhe acrescentando algo.


Antes de apresentar a música aos alunos, deve-se ter consciência do tema a ser trabalhado e do conhecimento prévio dos alunos. Se necessário for, deve-se subsidiar o aluno com pré-requisitos conceituais.


Como um exemplo daquilo que se pode fazer em sala de aula será apresentado uma atividade que pode ser aplicada por professores interessados.






PARTE 1


Com a finalidade de enriquecer uma aula, sobre meio ambiente, o professor poderá utilizar-se de uma música que aborda o assunto e sua letra deve ser apresentada aos alunos para que leiam enquanto ouvem. Isso facilita a compreensão da mensagem musical. A letra pode ser preparada em folhas de sulfite, com cópias individuais, pode ser transcrita com caneta "pilot" em papel pardo de tamanho adequado para ser lido na lousa; pode ser apresentada em retroprojetor, monitor de vídeo de computador na sala de informática ou datashow. Para os dois últimos, há excelentes recursos no programa Microsoft PowerPoint para elaboração de slides.


A apresentação inicial aos alunos da música "xote ecológico", cujo tema é a degradação do meio ambiente, funcionará como um despertador de atenção do aluno para um assunto a ser estudado; por isso sua apresentação antes da matéria propriamente dita é mais eficaz do que posteriormente.






Xote ecológico - Aguinaldo Batista e Luiz Gonzaga






Não posso respirar


Não posso mais nadar


A terra está morrendo


Não dá mais pra plantar


Se plantar não nasce


Se nascer não dá


Até pinga da boa


É difícil de encontrar


Cadê a flor que estava aqui


Poluição comeu


O peixe que é do mar


Poluição comeu


O verde onde é que está


Poluição comeu


Nem o Chico Mendes Sobreviveu






O tema da música acima é o meio ambiente cuja característica interdisciplinar extrapola os limites de uma única ciência, pois envolve política, economia, história, ecologia e geografia.


No que se refere à Geografia, seu objeto de estudo é o espaço humanizado e neste se inclui o meio ambiente impactado pelas organizações sociais.


Quanto ao conteúdo sobre meio ambiente e a forma de abordá-lo devem variar de acordo a série a que se destinam.






Clique no ícone a seguir para analisar um exemplo de slides que foram elaborados no PowerPoint com a música "Xote Ecológico".






















PARTE 2


Após a apresentação da música, é possível explorar o entendimento dos alunos sobre a letra da mesma e passar um questionário a eles com posterior esclarecimento de dúvidas. Exemplo:


1) Copie o título da música.


2) Escreva o que é xote?


3) O que é meio ambiente?


4) Qual o significado de ecologia?


5) Complete a tabela abaixo com os possíveis agentes dos problemas apontados na música.










PROBLEMAS AGENTES RESPONSÁVEIS


Não posso respirar


Não posso mais nadar


O verde onde é que está


Nem o Chico Mendes sobreviveu










6) Quem foi Chico Mendes?


7) Cite alguns problemas que as bebidas alcoólicas (pinga) podem apresentar em seus consumidores.


8) Complete.


No Brasil, o álcool é extraído da _____________________________; nos EUA, o álcool é extraído do_____________________________


9) Quando e em que circunstância o álcool surgiu como combustível de automóveis?


10) Descreva os principais impactos que podem ser provocados pela monocultura voltada à produção de combustíveis (etanol e biodísel).










PARTE 3


De acordo a necessidade dos estudantes é importante desenvolver o conhecimento sobre os conceitos e/ou definição de litosfera, hidrosfera, atmosfera, biosfera, ciclo hidrológico, a posição central do homem no ecossistema e os efeitos do desmatamento, a saber:


a) interrupção do ciclo hidrológico com prejuízos climáticos (chuva);


b) erosão do solo;


c) assoreamento de rios;


d) deslizamento de solo ou terra das vertentes ou encostas dos morros;


e) risco de extinção de espécies vegetais;


f) migração e morte de animais ao perderem seu hábitat.










PARTE 4


Agora o professor pode expandir o assunto abrangendo as causas que levaram a sociedade a degradar a natureza. Cabe analisar o aumento dos prejuízos ao ambiente a partir da Revolução Industrial na Inglaterra em 1760, espalhando-se pelos países vizinhos, em outros continentes, intensificando-se depois da Segunda Guerra Mundial e chegando aos países em desenvolvimento como o Brasil.


Durante as etapas da Revolução Industrial as inovações tecnológicas provocaram o êxodo rural e a urbanização de muitos países que se industrializaram. Estes se envolveram, inicialmente, com problemas de saúde pública pela ausência de infraestrutura médico-hospitalar, de saneamento e de moradias adequadas.


O desmatamento avança para ceder espaço a construção de barragens, a mineradoras e a monoculturas. As indústrias multiplicam-se e aumentam a poluição da atmosfera com fumaça e dos rios com dejetos nocivos aos peixes e outros seres vivos. Efeitos do aquecimento global são sentidos em diferentes partes do planeta. No final do século passado, graças ao movimento ambientalista, a sociedade começa a desenvolver a consciência da importância do desenvolvimento sustentável, um equilíbrio entre crescimento econômico, preservação ambiental, distribuição de renda e qualidade de vida.






CONCLUSÃO


No final do século XX houve um significativo aumento do uso da música como tratamento de distúrbios da mente devido a sua capacidade de sensibilizar, emocionar, excitar os reflexos sensoriais da audição correlacionados ao raciocínio nas distinções dos diferentes sons, além de despertar sensação de prazer e fixar a atenção no tempo.


Psiquiatras, a exemplo de CURY (2003) recomendam o uso de música ambiente em sala de aula para diminuir a ansiedade das crianças e lhes favorecer o equilíbrio emocional. Evidentemente que a música escolhida deve ser adequada ao fim a que se destina.


Os educadores de todas as disciplinas podem utilizar a música durante as suas aulas, desde que previamente selecionadas e nesse propósito indico três bibliografias, entre outras, de grande relevância.










FERREIRA, Martins. Como usar a música na sala de aula. 2a edição, São Paulo, Editora Contexto, 2002.






NEPOMUCENO, Rosa. Música caipira, da roça ao rodeio. São Paulo, Editora 34, 1999.






SEVERIANO, J. E MELLO, Zuza H. de. A canção no tempo: 85 anos de músicas brasileiras. vol.2: 1958-1985, São Paulo, Editora 34, 1998.














OBRAS QUE SERVIRAM DE REFERÊNCIA PARA ESTE ARTIGO:






VÍDEO


ESTIMULAÇÃO da Inteligência nas Crianças. Tribuna Independente da Rede Vida de Televisão. São Paulo, Associação Cultura e Atualidades, 2004, 1fita VHS (75 min): son., color (NTSC). Gravação de vídeo.










BIBLIOGRAFIAS


CURY, Augusto. Pais brilhantes, professores fascinantes. Rio de Janeiro, Sextante, 2003. 176 p. Música Ambiente em Sala de Aula, p. 120-122.


FERREIRA, Martins. Como usar a música na sala de aula. 2a edição, São Paulo, Editora Contexto, 2002.


ADAS, Melhem. Geografia. 4. ed. São Paulo. Moderna, 2002 4v.


















Licenciatura Plena em Geografia pela Universidade de São Paulo e


Professor de Ensino Fundamental e Médio


com experiência em escolas particulares e


atual atividade na Rede Pública da Prefeitura de São Paulo.

terça-feira, 20 de outubro de 2009


Conseqüências econômicas das mudanças climáticas é um prblema que mais cedo ou mais tarde vamos enfrentar e vai afetar todas as classes sociais!!!!Suki como um bom defensor da natureza reservou este artigo de uma revista eletrônica pra vcs!!!
Por Carlos Eduardo Frickmann Young e Priscila Geha Steffen

Introdução


O recente estudo divulgado pelo Painel Interministerial sobre Mudanças Climáticas (IPCC) mostra que os impactos do aquecimento global podem ser dramáticos. Ainda não se pode ter certeza sobre as conseqüências de longo prazo, pois o período de observação ainda é muito curto, mas os efeitos serão múltiplos, pois tudo está relacionado à temperatura, chuva, nível do mar, biodiversidade e outros elementos que serão diretamente afetados pela mudança climática.


Já existe consenso sobre a irreversibilidade do processo e o máximo que se conseguirá nas próximas décadas é evitar que as mudanças climáticas sejam ainda mais dramáticas. Assim, a discussão sobre adaptação e ajuste às mudanças começa a ganhar maior peso, já que antes o foco estava quase inteiramente voltado para a questão de como evitar as emissões. Não deixa de ser irônico que, agora, a natureza venha cobrar o preço de séculos de abuso humano. Porém, infelizmente, essa “Vingança de Gaia” está longe de obedecer qualquer critério de justiça: os países tropicais, que são os menos responsáveis, serão os mais dramaticamente afetados. Como o Brasil está situado em partes relativamente quentes do planeta e tem dimensões continentais, os impactos serão consideráveis, inclusive na economia, cuja discussão é o objetivo deste artigo.


Nova agricultura


O setor econômico mais diretamente afetado deverá ser a agropecuária, pois é dependente das condições de temperatura e precipitação. É importante frisar que a previsão é de aumento não apenas na média da temperatura, mas também em sua variância. Por isso, a incidência de eventos extremos deve aumentar, como verões ou invernos excepcionalmente chuvosos ou secos, quentes demais ou de menos. Essas oscilações terão diferenças regionais importantes e, seguramente, levarão a uma redivisão do mapa da produção agrícola.


Estudo recente do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe) sugere que o maior prejuízo tende a concentrar-se onde a temperatura já é muito alta, que é o caso das regiões Norte e Nordeste. Segundo o estudo, haverá um deslocamento de cultivos que não aceitam temperaturas muito altas, para regiões como o Sudeste e o Sul. O documento explica ainda que se os cenários mais pessimistas estiverem corretos, a Amazônia sofrerá um dramático aumento de temperatura, tornando as regiões de entorno mais áridas. Como a expansão da fronteira agrícola tem se concentrado justamente nessas bordas, no chamado “arco do desmatamento”, deverá ocorrer uma reversão da ocupação dessas áreas. A queima de vegetações nativas tem sido a base para essa expansão, mas é também a principal fonte de emissões de gases de efeito estufa no Brasil. Ao tornar o clima mais árido, com a “savanização” da Amazônia, a capacidade produtiva será fortemente atingida, podendo tornar ociosa a expansão de infra-estrutura na região, um dos pontos mais polêmicos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo Lula.


No semi-árido nordestino, o problema das secas tende a ficar ainda mais dramático, visto que a elevação da temperatura pode tornar a região ainda menos chuvosa. Sem dúvida, os mais afetados serão os agricultores familiares, em geral de subsistência, deixando as condições de vida nas áreas rurais ainda piores. Isso poderá aumentar a dependência de programas de assistência social para manter condições mínimas de vida na região.


O Centro-Oeste foi a região onde se concentrou a maior expansão da agricultura. Mas essa tendência pode ser alterada se as previsões de aumento de temperatura e redução de chuvas realmente aconteçam, gerando importantes conseqüências sociais e demográficas.


O Sudeste e principalmente a região Sul deverão ser menos afetados, porque têm clima mais ameno e as práticas de irrigação são mais difundidas. No entanto, o efeito líquido dependerá da natureza do cultivo. Mas mesmo áreas que sofram aumento relativamente moderado de temperatura poderão ser afetadas. Diversas bacias são abastecidas direta ou indiretamente pelas caudalosas chuvas amazônicas, fazendo com que a oscilação de temperatura e chuvas possa acontecer em qualquer região. A incidência de eventos extremos, como ondas de calor ou geadas, pode também trazer prejuízos para a atividade.


Mudanças na infra-estrutura


Se o regime de chuvas for alterado, todas as atividades relacionadas aos corpos hídricos serão afetadas. O Brasil é um país fortemente dependente de hidreletricidade, e onde ocorrer redução de chuvas haverá problema na geração de energia. A captação de água pode ser prejudicada, sendo necessário aumentar investimentos em saneamento para evitar transbordamento dos sistemas de captação e tratamento de esgoto em casos de cheias.

Isso indica que provavelmente será necessário expandir a capacidade da construção civil, pois a maior incidência de eventos climáticos extremos resultará em maior número de acidentes – inundações, deslizamentos, erosão – cuja prevenção ou mitigação irá exigir obras significativas. O relatório do IPCC, divulgado em fevereiro, indica que haverá aumento de chuvas e ventos no litoral brasileiro, bem como da intensidade das tempestades extratropicais, fenômeno que atinge as regiões Sul e Sudeste. Em 2004, o desastre do Catarina, primeiro furacão observado no Atlântico Sul, mostra que os danos para a infra-estrutura podem ser enormes, bem como a necessidade de serviços de assistência para calamidades.

A demanda por serviços de construção civil aumentará porque a elevação do nível do mar provocará a realocação de populações costeiras, obrigando um novo desenho do mapa dessas áreas. Os efeitos mais dramáticos deverão ocorrer nas regiões próximas a deltas de rios e outras áreas que já sofrem variações consideráveis de maré.

Outros setores


O setor de saúde pode sofrer um grande efeito, pois o que se espera é o aumento de incidência das doenças tropicais. Deverão se alastrar, por exemplo, doenças tropicais transmissíveis por vetores, como malária e dengue, além de doenças de veiculação hídrica. Surtos epidêmicos estão associados a desastres naturais, como enchentes, visto que o abastecimento de água tratada e a coleta de esgoto ficam comprometidos.

O mapa do turismo também pode sofrer modificações, especialmente nas áreas costeiras, que concentram a maioria dos turistas. Isso vai gerar efeitos de encadeamento em diversos setores de serviços associados (hospedagem, alimentação, transporte, entre outros).


Mesmo setores que aparentemente estão distantes do mundo natural acabarão sendo afetados. Um exemplo é o setor de seguros: a maior incidência de desastres levará à necessidade de se precaver contra o aumento de sinistros. Não é por acaso que as empresas de resseguro (que são as “seguradoras das seguradoras”) estão investindo fortemente em estudos sobre conseqüências esperadas do aquecimento global.


Possibilidades de mitigação: projetos de desenvolvimento limpo


Efeitos econômicos positivos podem ser esperados em função dos investimentos visando reduzir emissões de gases de efeito estufa. O Brasil já se destaca como líder em projetos de gerenciamento de lixo para obter créditos de carbono através da redução de emissões de metano, através do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). O metano (CH4) possui um poder de aquecimento global muitas vezes maior que o dióxido de carbono (CO2) resultante de sua combustão. Por isso, a queima do biogás, que escapa dos depósitos de lixo (muito rico em metano) reduz o aquecimento global, além de poder gerar eletricidade. Investimentos na gestão de resíduos sólidos podem gerar aporte financeiro importante para ajudar a resolver um problema que tem forte apelo social, melhorando as condições de vida da população e ao mesmo tempo gerando energia e soluções de desenvolvimento.


Projetos de conversão de plantas industriais visando reduzir emissões de gases de efeito estufa resultantes da atividade manufatureira, como óxido nitroso (N2O) e hidrofluorcarbonos (HFCx) deverão atrair projetos de desenvolvimento limpo. Esses gases têm grande poder de aquecimento global, e a redução nas suas emissões podem gerar grande volume de créditos de carbono.


Uma outra possibilidade são projetos de reflorestamento que podem capturar carbono na atmosfera através de fotossíntese. Esse princípio é válido tanto para vegetações nativas quanto exóticas, e, por isso, atividades que já investem em silvicultura poderão se beneficiar de créditos de carbono. Mas pelo regimento estabelecido pelo Protocolo de Quioto, há limitações para a quantidade de créditos de carbono que podem ser gerados dessa forma. No caso brasileiro, ações que reduzam o desmatamento seriam as que mais contribuiriam para diminuir emissões de gases de efeito estufa. Contudo, esse tipo de atividade não é considerado elegível para obtenção créditos de carbono, gerando sérias dificuldades para financiar projetos privados voltados para a conservação florestal. Por isso, o setor público deverá continuar liderando os programas de detenção de queimadas e criação de áreas de conservação.


Não existem restrições para projetos de energia renovável. O problema é que a matriz energética brasileira já apresenta uma elevada participação de hidreletricidade e por isso o espaço para substituir fontes termelétricas é relativamente limitado a sistemas isolados que se encontram, em sua maioria, em áreas remotas. A expansão da geração hidrelétrica tem como barreira a crescente preocupação sobre os impactos ambientais de novas usinas e linhas de transmissão, em particular sobre biodiversidade e populações deslocadas.


Do mesmo modo, o Brasil também dispõe de alta participação de combustíveis renováveis de origem vegetal, principalmente álcool combustível. Existe espaço para aumento na participação de biocombustíveis no mercado doméstico, especialmente se o preço do petróleo continuar elevado e o governo federal mantiver o biodiesel como prioridade. Mas as expectativas de crescimento de demanda de biocombustíveis são motivadas principalmente pela crença no aumento das exportações para países desenvolvidos que queiram reduzir suas emissões de combustíveis fósseis. Entre as possíveis vantagens, aponta-se o apoio à produção familiar no programa do biodiesel, a contratação de mão-de- obra para corte da cana e a geração de divisas com a expansão das exportações.


Diante deste cenário deve-se ter muito cuidado com os reais impactos da produção dos biocombustíveis em larga escala. O aumento previsto de produção requer um incremento considerável das áreas de cultivo, podendo resultar em aceleração do desmatamento – o que agravaria o aquecimento global, ao invés de reduzi-lo. Mesmo que tal expansão se localize em áreas já desmatadas, pode ocorrer um processo de incremento no preço da terra, deslocando outras atividades para a fronteira agrícola. Por exemplo, uma pastagem pode ser convertida em plantação de cana para etanol ou de soja para biodiesel (o que, a princípio, ajudaria a reduzir o consumo de petróleo), mas o resultado final pode ser a queima de florestas para abrigar o rebanho deslocado, ou seja, emitindo muito mais do que se espera reduzir com os biocombustíveis. É bastante comum ouvir dos defensores do etanol e do biodiesel que há muitas áreas já desmatadas que podem ser utilizadas para esses combustíveis, mas não existe nenhum plano de ação para impedir o “vazamento” do desmatamento na fronteira agrícola, nem mesmo menção aos possíveis efeitos indiretos do crescimento do preço da terra. Se for comprovado que a produção do biocombustível está associada ao desmatamento (e também à redução da biodiversidade), é muito provável que a esperada explosão de demanda externa não se verifique, e o setor entre em crise.


Do mesmo modo, há outros problemas que costumam ser omitidos quando são apresentados os benefícios dos combustíveis “verdes”. É muito pouco provável que a pequena produção familiar produza oleaginosas em escala suficiente para atingir as metas programadas pelo governo, e o “grosso” da produção de biodiesel deverá ser oriunda de grandes plantações mecanizadas. Há muitas dúvidas sobre o apelo “social” do biodiesel e, se as condições atuais de financiamento e apoio ao agricultor forem mantidas, o resultado final pode ser ainda mais concentração fundiária. Também há sérias dúvidas sobre o apelo social da cana, visto que sua produção é concentrada em grandes propriedades e o corte manual deverá ser abolido com o tempo, não só pelas duras condições de trabalho mas também porque a pré-queimada (necessária para facilitar a entrada humana no canavial) gera poluição atmosférica numa extensa região em torno da plantação, causando danos à saúde de trabalhadores e moradores de áreas próximas.


Desenhar instrumentos de certificação que atestem que o biocombustível foi obtido de forma ambientalmente e socialmente adequada é uma estratégia que deve ser pensada desde agora para evitar problemas futuros sobre a efetiva contribuição para a redução do aquecimento global. Mas é ilusório supor que a expansão de monocultivos em larga escala (seja de cana, soja ou mamona) levará o Brasil a uma trajetória de desenvolvimento sustentável.


Carlos Eduardo Frickmann Young é professor associado do Instituto de Economia – UFRJ e Priscila Geha Steffen é jornalista